por Lenise Pinheiro




"Nada sou de forma autêntica, não sou uno nem em partes, apenas parto. Parto, porto, partida. Estou sempre de partida em busca de algo que me defina, me redima, me rumina, me ilumina, me domina. Em busca do que me realiza, me banaliza, me eleva, personaliza e extermina.Volto sempre ao mesmo ponto, ou a um novo ponto não tenho para onde ir. Todos os caminhos levam ao descaminho, ao não-caminho, ao anticaminho, ao novo caminho, ao ser-estar, passageiro- passarinho, caminheiro errante-amante-sozinho de estradas noturnas abertas de chagas e espinhos."

"O teu rosto é a realidade moldurada
E que tem a fachada de um teatro
Por fora, a contextura de um corpo,
Mas apto de acontecer, alegre ou dramático.
Por que primariamente eu, no teu rosto,
Aconteço-me quando o contemplo.
O teu rosto é a tua emoção
Tua localização
E eu não tenho nele, apenas o mero plástico interesse,
Por que, se dormindo oculta-se,
A interpretação que nele indago,
Na anestesia do teu eu, teu belo eu, se ofusca.
Pois sinto o teu rosto como encontro, não como corpo.
Teu rosto está dado,
Como um fato a ser descoberto
Por isso o espetáculo do teu rosto
Deslumbra a presença do você
Na trajetória dos meus olhos
Que assisto e que me agrada
E que aplaudo com um sorriso
E para o meu deleite,
O teu rosto é belo e possível
Feito a palavra
Palavra que compõe o verso,
Que constrói o poema
Que te torna literatura
Mais que literatura, literal.
O teu rosto, tão real." ( de Mary Prieto para Thereza Piffer )